A música Lampião de Gás, de Inezita Barroso, foi durante muito tempo símbolo da São Paulo de antigamente. Composta por Zica Bergami e gravada por Inezita em 1958, recorda com grande nostalgia uma “cidade calma e serena, que era pequena, mas grande demais”.
Durante a maior parte do século 19, São Paulo foi iluminada quase que unicamente pela luz da lua, então quando a iluminação a gás surgiu, era um sinal de progresso e de modernização. Se não era iluminada pela lua, a cidade, que era escura e praticamente deserta à noite, era por alguns lampiões à óleo, colocados na frente das casas. Ou seja, as ruas mal calçadas eram iluminadas fracamente.
Foi só em 1863 que o governo paulista contratou um serviço de iluminação a gás, obtido através de carvão. Dez anos depois, a São Paulo Gás Company já dispunha de 700 lampiões de gás instalados e estavam iluminadas as fachadas da igreja da Sé e do Palácio do Governo, que ficava no Pátio do Colégio.
Desde então, os lampiões de gás se espalharam e durante muito tempo foram símbolo de progresso e crescimento. A rotina de acender e apagar os lampiões fazia parte do cotidiano e um funcionário da Cia. de Gás, munido de uma vara, acendia e apagava os lampiões ao anoitecer e ao raiar do dia. A sua luz azulada se confundia com a lua e dava à cidade um ar romântico e, até mesmo, um pouco fantasmagórico.
O progresso, no entanto, não conhece limites e em 1906 as primeiras lâmpadas elétricas foram instaladas na cidade e essa nova invenção foi pouco a pouco ofuscando os velhos lampiões. Porém eles ainda dominariam as ruas por muito tempo e o último lampião só foi desativado em 1936, quando São Paulo já era uma metrópole admirável com um milhão de habitantes.
A história por trás da música mostra como a cidade está em constante mudança, sempre se adaptando as necessidades e as modernidades que surgem. Além disso, mostra que as constantes mudanças trazem um sentimento triste e de saudades dos velhos tempos a quem passa por elas. Inezita Barroso e Zica Bergami já faleceram, mas hoje fazem parte das memórias da cidade.
Letra de Lampião de Gás
Lampião de gás, lampião de gás
Quanta saudade você me traz
Da sua luzinha verde azulada
Que iluminava minha janela,
Do almofadinha lá dá calçada,
Palheta branca, calça apertada
Do bilboquê, do diabolô,
"Me dá foguinho", "vai no vizinho"
De pular corda, brincar de roda,
De Benjamim, Jagunço e Chiquinha
Lampião de gás, lampião de gás
Quanta saudade você me traz
Do bonde aberto, do carvoeiro
Do vassoureiro com seu pregão
Da vovozinha, muito branquinha,
Fazendo roscas, sequilhos e pão
Da garoinha fria, fininha,
Escorregando pela vidraça,
Do sabugueiro grande e cheiroso,
Lá do quintal da rua da Graça
Lampião de gás, lampião de gás
Quanta saudade você me traz
Minha São Paulo, calma e serena, Que era pequena, mas grande demais! Agora cresceu, mas tudo morreu... Lampião de gás que saudade me traz